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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

CARTA A UMA VELHA

Um dia, quando eu for velha (e os anos passam tão depressa), quero que me olhem e sintam orgulho de todas as minhas tentativas de viver a vida conforme os meus princípios, conforme a minha vontade.

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E, se eu puder deixar um recado para essa mulher que serei então, peço que ela seja doce, que mantenha alguma alegria (ainda que a amargura lhe seja tentadora), que ela possa ver ainda, quão bela é a vida.

Mulher no espelho

Que ela possa ver alguma beleza em si mesma, mesmo quando o seu rosto estiver enrugado, os olhos um pouco apagados, que ela se lembre do quanto achava ridículo, que as mais velhas não soubessem perceber que a juventude há muito ficara para trás e não caia na armadilha de tentar ser aquilo que não pode mais ser. Que ela se lembre deste tempo de hoje, e aceite essa outra forma de beleza, com ou sem dores, mas com muita dignidade.

 

Que ela tenha mãos firmes para passar um pó-de-arroz e, quiçá, um delineador. Que ela continue a saber o valor de um momento, de um bom perfume, de um penteado bonito, de um vestido elegante. Que não caia na tentação de vestir-se como uma velha ou – pior – que não caia no ridículo de usar roupas parecidas com as das jovens.

 

Que ela não implique com a vida, com o tempo, com as pessoas. Que ela saiba rir da vida e de si mesma. Que ela possa, ainda, fazer os outros rir.

 

Que ela não cobre do seu companheiro (se o tiver), do filho, dos netos, dos amigos, mais do que eles lhe poderão oferecer. E que, caso lhe ofereçam  muito pouco, que isso não a amargure; mesmo que seja infinitamente injusto e cruel – e deve ser –, que ela possa aceitar a situação sem dramas,  antes com inteligência. Que ela consiga continuar a interessar-se por assuntos, que ela tenha prazeres e encantamentos, sabedoria e discernimento.

 

Que ela continue a ler bastante, para que ela possa achar assuntos nos jornais, nas revistas, nos novos e nos velhos livros, que lhe permitam continuar a escrever. E, se não lhe restar amigos, ou amores, que o conhecimento a salve de uma rotina infinitamente maçadora e comprida.

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Que ela continue a apreciar as flores, a música, a comida, uma bebidinha ao fim da tarde, ou qualquer uma dessas coisas oferecidas em abundância pela vida, porque, mesmo que lhe falte o resto, ainda terá a visão, o som ou o gosto do que a fará feliz.

 

Mesmo quando estiver debilitada, não queira que sintam pena dela, queira antes que olhem para ela e digam: ela é forte, ela vai vencer mais essa!! E não duvido. Ela vai vencer, porque ela não vai querer que a levem como um “embrulhinho” de casa em casa. Deixa-na ficar no seu cantinho, "deixa-na ficar na dela". Todos sabem quanto ela  valoriza a liberdade e não só a dela, mas, sobretudo, a dos outros.

 

Que não se sintam responsáveis por ela. Ela retira-lhes essa obrigação. Solta-vos. Liberta-vos. Ela quer que vivam as vossas vidas, que trilhem os vossos caminhos, que amem os vossos amores, que se formem, que trabalhem, que tenham êxito. Ela quer que sejam corajosos, que sonhem muito, que sonhem alto! Que sejam gentis, que retribuam sorrisos, que compartilhem bons momentos, que cuidem do corpo, mas que não esqueçam da  alma. Que não se prendam a dogmas, que não julguem nada, nem condenem ninguém. Que  não acreditem em tudo o que lhes digam, que procurem antes pelas respostas. Que usem o poder que cada um tem dentro de si, porque podem tudo! O impossível não existe, mas é preciso crer!

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E, enfim, se eu puder deixar um último recado a essa velhinha que eu serei, peço que ela se lembre da menina que foi um dia e que seja gentil com essa garota, com os seus próprios erros, acertos, escorregadas e tentativas vãs. Que ela não seja demasiado rígida com a vida, nem com a mulher atrevida que, um dia, se sentou num jardim ensolarado para lhe deixar uma pequena carta, cheia de palavras e ideias que, talvez então, já  não façam o menor sentido.

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia.

(Texto adaptado)

 

Imagem : Web e shutterstock.