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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Paciência e Tolerância – As virtudes dos Velhos

Zuenir Ventura

Aprecio muito as crónicas do jornalista e escritor brasileiro, Zuenir Ventura (*).  Zuenir Ventura é aquele tipo de jornalista que não existe mais. Escreve óptimas crónicas semanais n’O Globo, sobre temas que lhe vêm à cabeça. Aproveitou a pesquisa feita pelo instituto DATAFOLHA  para falar do envelhecimento, ele próprio que já passou dos 80 anos, felizmente, bastante activo  física e intelectualmente.  Zuenir escreve com elegância, seja lá qual o tema que  aborde.

Neste caso, como já se disse, ele comentou os resultados de uma pesquisa feita pelo     “Datafolha”,  mostrando como os brasileiros raciocinam quando o assunto é idade.

Leia e delicie-se.

 

“No estudo do “Datafolha” é revelado que os brasileiros, se consideram  jovens até aos 37 anos e, velhos, após os 64, dependendo de como encaram a idade. Sendo assim, eu poderia dizer que sou um idoso de apenas 22 anos (façam as contas), sem ter do que me queixar. Não estou entre os que fazem o elogio irrestrito de uma fase da vida em que até o prefixo é traiçoeiro — sexagenário não tem nada a ver com sexo, se é que se precisa avisar. Mas também não acho que seja o pior dos tempos, principalmente quando se sabe que a adolescência, tão idealizada à distância, é uma das fases mais atormentadas da existência.

Nem sempre é a idade o que nos torna felizes ou infelizes, e sim a cabeça, assim como o que faz mal à saúde é a doença, não a velhice. Perdi pelo caminho, para o cancro, o infarto, a Sida (HIV) e até o Alzheimer, vários amigos bem mais jovens. 

Idosa a fumar (2) Mas, por outro lado, tenho uma amiga centenária, activa e feliz, que responde o seguinte quando se tenta saber o segredo da saudável longevidade: “É que fumo, jogo e bebo”. E é verdade, embora não se trate de uma receita para todos. Em geral, é a genética que decide cada caso.

Enquanto isso, carpe diem, como aconselhava o poeta latino Horácio, ou como dizia o seu colega de hedonismo Vinícius de Moraes: “A coisa mais divina/ Que há no mundo/ É viver cada segundo”. A chamada terceira idade não é a número 1, mas merece destaque nesta moda cabalística do tertius   — Terceiro Mundo, terceiro milénio, terceira via, terceiro sexo, terceira pessoa da Santíssima Trindade. É ainda a melhor alternativa, à qual se chega, quando se chega, munido de prudência, juízo, sabedoria, experiência e, claro, boas taxas de colesterol, triglicerídeos e glicose.

De qualquer maneira, estamos mais bem conservados do que os nossos antepassados. Comparem algumas celebridades de ontem e de hoje. Vejam as fotografias daqueles barbudos famosos, todos provectos, mais para lá do que p’ra cá. Pois bem, o velho Marx, que morreu com 65 anos, tinha oito a menos que Chico Buarque. Junte as fotos de Dom Pedro II e Caetano Veloso. Quem é o mais jovem? O compositor, certo? Errado. O imperador era nove anos mais novo. E Machado de Assis, alguém poderia adivinhar que ele tinha sete a menos que Roberto Carlos? Felizmente, não se fazem mais jovens com cara de velhos como antigamente.

Do alto de minha nova condição etária, ouso afirmar que, graças às duas principais virtudes anciãs — paciência e tolerância — pode-se constatar que, assim como ocorre com o pôr do sol, existe também no nosso entardecer uma serena e crepuscular beleza a apreciar — se a vista já não estiver cansada e as lentes embaciadas."

Adaptação da crónica de  Zuenir Ventura.

 

Mandy MartinsPereira escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

(*) Zuenir Carlos Ventura (Além – Paraíba – 1 de Junho de 1931) Brilhante jornalista e escritor brasileiro,  lúcido e muito coerente, os seus livros misturam ficção e realidade, e as narrativas têm uma vivacidade que empolga e encanta leitores de todas as idades.